A reforma e ampliação da Câmara de Vereadores de Erechim parte da compreensão e valorização da relevância histórica e arquitetônica do edifício projetado por José Carlos Maffessoni. O retorno à volumetria inicial, com a preservação do desenho original das fachadas norte e leste e a remoção dos artifícios das mesmas, é seguido como forma de respeito aos ideais modernistas e do panorama urbano constituído.
A nova construção propõe uma continuidade natural a partir das linhas calcadas na fachada do edifício existente. O desenho amplia a linha horizontal da platibanda como uma extensão natural do conjunto arquitetônico. O vazio preservado dois edifícios oportuniza a legibilidade do caráter individual de cada obra – como um respiro que mantém uma leve tensão de proximidade, mas não de contato no seu plano externo. Da mesma forma, a repetição das colunas na nova estrutura reforça os valores compartilhados entre as edificações.
A fachada voltada para a Avenida Uruguai é protegida por um elemento de proteção solar têxtil já amplamente disponível no Brasil, que suaviza a percepção do novo volume e enfatiza a construção modernista de Maffessoni, ao mesmo tempo que contribui para o conforto térmico dos usuários ao filtrar a radiação solar e reduzir a carga térmica com a ventilação constante prevista entre a tela e o fechamento externo. Optou-se por dividir a fachada em 3 momentos: o superior, alinhado à preexistência; o intermediário, com uma inclinação a oeste, de modo a articular o acesso à garagem e também melhor se relacionando com a edificação residencial vizinha; e o inferior, com um recuo perpendicular à linha limite superior, formando um embasamento envidraçado, protegido e integrado com a escala humana do passeio.
Para a distribuição do programa entre as duas edificações foram definidas duas premissas norteadoras:
1. A adição de maior quantidade de pavimentos na nova edificação, alternados com os níveis originais, para manter o limite vertical proposto e minimizar as escavações profundas para subsolos – reduzindo as movimentações de terra, integrando o volume de forma mais suave ao terreno e viabilizando economicamente a proposta. Assim, no ponto de articulação entre as duas volumetrias é definido um átrio, como um espaço democrático que oferece visadas oportunas e transparência literal e simbólica à casa do legislativo municipal. Este espaço acomoda o núcleo de circulação vertical, com papel de destaque na transição entre as edificações. Além disso, o átrio otimiza a ventilação natural do conjunto, priorizada como estratégia de conforto uma vez que o projeto viabiliza a climatização artificial setorizada, ao oportunizar o efeito chaminé.
2. Os programas de caráter deliberativo, como o plenário e o plenarinho, bem como os espaços de maior interação pública, como a recepção, o saguão, o café e o memorial, são mantidos na edificação original, de modo a perpetuar o espaço histórico como protagonista do conjunto e centro de atividades cívicas e de convivência pública. Assim, os programas de caráter administrativo, como os gabinetes e demais áreas técnicas solicitadas, são distribuídos na nova edificação, de modo a otimizar os fluxos e as atividades técnicas, atendendo as demandas do presente e do futuro.
A ampliação também abrange circulações como ambientes de uso comum que favorecem a convivência, permanência e diálogo democrático, de modo a dinamizar as interações políticas e o engajamento cívico. Nas extremidades dos corredores estão posicionadas zenitais associadas a vazios e áreas vegetadas, o que torna toda a experiência cotidiana de convivência com o edifício mais humanizada e caracteriza as circulações também como espaços gregários.