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Edifício Jatobá

O edifício de médio porte Jatobá é estruturado primordialmente por um sistema de vigas em MLC, que transmite as cargas aos pilares de MLC, a algumas paredes de CLT das fachadas e ao núcleo vertical de concreto. As lajes são todas de CLT. O contraventamento na menor direção é feito por 4 subsistemas principais: dois nas fachadas laterais (compostos por painéis CLT e vigas em MLC) e dois no interior do edifício, no formato de V, os quais são conectados ao núcleo de concreto trapezoidal. Na outra direção, o travamento é feito pelas fachadas em CLT e pelo núcleo de concreto. Os subsistemas em V correlacionam a concepção estrutural com o projeto arquitetônico, que faz uma subtração volumétrica na região por eles delimitada nos últimos dois pavimentos.

DORMF + STRELKA

A Organização das Nações Unidas (2019) fez uma projeção de que até 2050 deveremos ter 2,5 bilhões de novos moradores urbanos ao redor do planeta (no Brasil, estima-se que 92,4% da população será urbana), o que implicará na necessidade de produção de um grande volume de novas unidades habitacionais nas próximas décadas. Ao mesmo tempo, o estudo de Churkina et al. (2020) mostra que, considerando um cenário de construção semelhante ao atual (99,5% das construções em aço e concreto), as emissões acumuladas de carbono para produção destes materiais podem atingir o valor de 4,4 Gt de carbono, a fim de suprir a nova demanda habitacional mundial. Deste modo, fica evidente a necessidade de uma mudança de paradigma na construção civil. Outros cenários mais positivos foram traçados e estudados, com a utilização de produtos de madeira engenheirada (CLT e MLC) nas novas construções, em maior ou menor proporção. A partir de análises de ciclo de vida, concluiu-se que, além das emissões de carbono serem substancialmente reduzidas com a adoção da madeira em larga escala, os próprios edifícios em madeira poderão se tornar verdadeiros reservatórios de carbono, uma vez que, ao longo de sua vida útil, estocam o carbono sequestrado pela madeira durante o seu crescimento. Sendo assim, a construção em madeira passa a ser uma alternativa com grande potencial ambiental, especialmente no que diz respeito às emissões de carbono. Para isso, deve ser combinada com um manejo florestal adequado, com programas de certificação, com legislação e fiscalização ambientais rígidas, e com os devidos cuidados com durabilidade e proteção, objetivando produzir e conservar construções com longa vida útil. De fato, segundo Miotto (2009), o uso de madeira certificada em estruturas é positivo para o meio ambiente, considerando ser um material renovável, reaproveitável e um excelente sequestrador de carbono, reunindo assim todos os requisitos fundamentais para mitigar os impactos ambientais causados pelas construções. Nesse contexto, a realização de estudos de novas tipologias construtivas em madeira, especialmente habitacionais – tendo em vista a grande demanda por novas habitações urbanas –, são fundamentais para abrir um amplo debate entre academia e sociedade, visando caminhar na direção tão urgente da necessária mudança de paradigma.

Nesta proposta nós apresentamos 3 projetos de edificações multifamiliares com utilização significativa de sistemas estruturais em madeira engenheirada e uma possível configuração de quarteirão urbano típico, adicionando também atividades comerciais e comunitárias.

Nosso esforço visa encontrar equilíbrio e beleza no tecido urbano. Acreditamos na importância de ruas com intensa movimentação de pedestres, propiciando a alegria de encontros inesperados e todo tipo de interação social – nossa proposta baseia-se em quarteirões urbanos relativamente pequenos, porosos e entrelaçados com uma arquitetura de vanguarda. O projeto explora a interioridade dos quarteirões, oferecendo alternativas de caminhos mais rápidos, silenciosos e bucólicos, complementando os passeios periféricos, ricamente preenchidos por lojas e restaurantes. Uma construção baixa e linear conecta os edifícios residenciais, ajudando a moldar os espaços legíveis dentro do quarteirão, ao mesmo tempo em que oferece espaço para atividades comerciais e comunitárias, as quais entendemos como complementos essenciais para a habitação. Acima delas, os moradores encontram abundantes terraços comunitários para banhos de sol e socializações. A vegetação desempenha um papel importante, não sendo utilizada apenas de forma decorativa, mas sim como parte integrante da paisagem, sem sobrepor-se à essência primordialmente urbana e ativa da proposta.

Quanto à arquitetura, o projeto respeita a plasticidade e as qualidades materiais específicas de cada edifício, caracterizando a expressividade destes por meio de manipulações sutis na disposição dos elementos de fachada. As plantas são flexíveis em sua essência, utilizando as fachadas como sistemas não apenas de iluminação, ventilação e isolamento térmico e acústico (tendo em vista as excelentes propriedades térmicas do CLT), mas também como parte integrante do sistema estrutural, especialmente no contraventamento das edificações. As fachadas também são utilizadas como solução para armazenagem, mesas de trabalho e balcões de cozinha. Os painéis CLT externos são protegidos por membranas hidrofugantes e revestidos, visando uma maior durabilidade. As áreas úmidas são dispostas de forma linear, racionalizando a construção e deixando amplas zonas livres para os espaços principais dos apartamentos. Garante-se assim flexibilidade, não apenas para mudanças de layout das unidades, como também para reorganizações de pavimentos inteiros caso necessário, permitindo que os edifícios acomodem alterações de uso em um período muito mais longo de tempo.

Os três edifícios propostos priorizam o uso de elementos estruturais em madeira maciça, especialmente de madeira laminada colada (MLC) e madeira lamelada cruzada (CLT). Algumas características comuns aos edifícios são:

Proteção exterior dos painéis CLT: as paredes externas compostas por painéis CLT são protegidas por membranas hidrofugantes e revestidas com ripas de madeira serrada, as quais são tratadas com preservantes naturais ou com a técnica shou sugi ban, que consiste na carbonização superficial da madeira a fim de aumentar sua durabilidade. Essas paredes em CLT contribuem para o isolamento termoacústico dos edifícios e, em alguns casos, auxiliam no sistema estrutural, especialmente no contraventamento.

Proteção contra umidade ascendente: Todos os elementos de madeira são protegidos do contato direto com o solo, utilizando-se fundações de concreto armado e conexões compostas por elementos metálicos, as quais não foram detalhadas nessa etapa do projeto.

Paredes internas não estruturais: são compostas por painéis leves de vedação (visando a flexibilidade arquitetônica almejada) estruturados por montantes de madeira serrada ou LVL. Contêm isolantes termoacústicos no interior e fechamentos com painéis OSB e placas de gesso.

Núcleos verticais de concreto: os edifícios contam com núcleos de concreto armado nas circulações verticais, objetivando construir uma barreira contra a propagação de incêndios nas rotas de fuga. Sabe-se que um elemento massivo de madeira apresenta bom desempenho estrutural ao fogo (Pinto, 2001), uma vez que a formação de uma crosta carbonizada isola termicamente o seu interior, mantendo suas propriedades estruturais intactas e possibilitando que o tempo de resistência ao fogo seja previsto em projeto. Contudo, também é verdade que a madeira é um material inflamável, motivo pelo qual é prudente se construir rotas de fuga protegidas. Por fim, cabe ressaltar que esses núcleos em concreto também contribuem significativamente com os sistemas de contraventamento dos edifícios.

status:
concurso

ano:
2018

cliente:
DORMF + STRELKA

arquitetura:
Gabriel Johansson Azeredo, Ruti Luiza Conrad, Pedro Leggerini, Henrique Grillo, Ândrio Vicari, Lucas Kirchner, Henrique Clezar.

imagens:
scopeomedia

Desenhos

Implantação

Implantação

Planta baixa pavimento tipo 03

Planta baixa pavimento tipo 03

X
Implantação

Implantação

Planta baixa térreo

Planta baixa térreo

Planta baixa pavimento tipo 01

Planta baixa pavimento tipo 01

Planta baixa pavimento tipo 02

Planta baixa pavimento tipo 02

Planta baixa pavimento tipo 03

Planta baixa pavimento tipo 03

Diagrama estrutural

Diagrama estrutural

Imagens

A Vila Urbana apresenta uma forte subtração nos dois últimos andares.

A Vila Urbana apresenta uma forte subtração nos dois últimos andares.

O tamanho e a permeabilidade dos blocos permitem alternativas de caminhos internos mais silenciosos e repletos de natureza.

O tamanho e a permeabilidade dos blocos permitem alternativas de caminhos internos mais silenciosos e repletos de natureza.

As Urban Villas são edifícios robustos com fachadas profundas revestidas com madeira shou sugi ban e alumínio.

As Urban Villas são edifícios robustos com fachadas profundas revestidas com madeira shou sugi ban e alumínio.

A planta baixa deixa as áreas principais livres de qualquer equipamento fixo ou instalação, permitindo a máxima flexibilidade de layout.

A planta baixa deixa as áreas principais livres de qualquer equipamento fixo ou instalação, permitindo a máxima flexibilidade de layout.

X
Jatobá

Jatobá

Jatobá

Jatobá

Jatobá

Jatobá

Jatobá

Jatobá